sábado, 13 de junho de 2015

Praia do Guincho. A mania de falar sem saber

Acordei cedo. Tinha de ir a correr até à Baixa para comprar um presente para o pai. Já tinha combinado que ia passar a tarde com ele - à noite ia para a bela da noite de Santo António com colegas (e amigos).

Saio de casa no caos do costume - mudar de mala, procurar sapatos, maquilhar a correr, toalha para um lado e pijama para o outro, encontrar as chaves. Fecho a porta de casa e vejo que o céu está demasiado cinzento para uma véspera de Santo António. "Tranquilo. É só uma ameaça". 

Compro os livrinhos e os CD para o pai e meto-me a andar até ao Rossio para apanhar o comboio para Sintra. Vejo mais chapéus de chuva do que óculos de sol. "Tranquilo. É só uma ameaça".

Chego a Sintra e a mãe está com o guarda-chuva na mão. "Ainda há pouco caíram umas pingas. Nada de especial". Vamos para o carro, rumo a Cascais. "Tranquilo. É só uma ameaça".

O pai está com a neura. Como tem direito ao dia, já tinha tudo planeado: almoço tardio, uns mergulhos no mar e jantar com a família. Relembrei que não estaria presente à noite. Primeiro golpe nas expectativas. O céu está prestes a dar o segundo. "Tranquilo. É só uma ameaça".

São 16:00 e ele não perdeu a esperança: Está vento, não está calor e parece que vai chover. "Vamos experimentar a Poça", diz a mais nova. "Se é para experimentar a Poça, vamos masé ao Guincho". 

Suicídio, pensa a maioria. Mas como me ensinaram, "não fales sem saber". 

Enquanto a maior parte da população portuguesa se preocupava com a roupa no estendal e as sandálias novas, eu estava na praia do Guincho - a praia do vendaval apenas com uma brisa, a praia do mar perigoso com bandeira verde, a praia que nunca tem lugares com o areal e as ondas só para mim. Para mim, para a Capitu e para o pai. Teve o dia de anos que queria, com o melhor desta vida. "Tranquilo. Foi só uma ameaça".



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